Search

Shopping cart

Saved articles

You have not yet added any article to your bookmarks!

Browse articles
Newsletter image

Subscribe to the Newsletter

Join 10k+ people to get notified about new posts, news and tips.

Do not worry we don't spam!

GDPR Compliance

We use cookies to ensure you get the best experience on our website. By continuing to use our site, you accept our use of cookies, Privacy Policy, and Terms of Service.

Sumindo no escuro

Sumindo no escuro

A obra de Jorge Cardoso não tem par. Isso não é um juízo de valor estético. É uma observação prática mesmo. Normalmente, você começa a ler um livro e sua cabeça, instintivamente, começa a vasculhar aquele velho baú dos afetos em busca de uns pilares, de umas vigas, de um pau de sebo que seja, pra você escalar o novo texto que se anuncia; ou pelo menos pra se escorar enquanto o lê. Com os contos de Jorge, a cabeça abre o baú sem acender a luz do porão, e você cai lá dentro, tateando e com medo de não sair mais, sem nada em que se apoiar.
Há uma tensão por baixo das linhas, algo que não está no texto e você pode quase tocar; como a sensação de estar sendo seguido quando se atravessa um corredor vazio. É como se o texto fosse uma isca -- uma armadilha! --, pra você ficar distraído enquanto o que é real e está escondido sob as palavras crava os dentes no seu pescoço. Na verdade, não. São tentáculos, e eles estão ao redor de todo o seu corpo.
Prepare-se para vinte e quatro contos sobre o que foge do seu controle -- do seu mesmo, que está prestes a lê-los --, porque o medo que os textos espelham sempre nos acompanharam, cravados no nosso DNA como um rabo atrofiado, o rabo fantasma que vemos de relance quando o instinto toma as rédeas da ação durante as urgências e você range os dentes. São histórias de possessões, de rituais, de feitiços, de transfigurações, de crimes desse mundo que na verdade são bênçãos em outro. Comum a todos eles, apenas a violência sem saída que parece definir a condição dos homens. Os personagens, via de regra, estão passando por maus bocados: empregos ruins, casamentos falidos, fihos indesejados de um lado, pais inconsequentes de outro; mas a epifania que poderia vir de um contato com o sobrenatural, tão comum como recurso narrativo das histórias de horror, não dá as caras por aqui. Ou melhor, dá sim, mas sempre como compreensão da derrota.

Comments