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O papel mata-moscas e outros textos

O papel mata-moscas e outros textos

Contos, ensaios e aforismos oferecem um prisma multifacetado do pensamento do escritor austríaco, celebrado por contemporâneos como Thomas Mann.

O papel mata-moscas e outros textos reúne narrativas de extensões variadas, mas predominantemente curtas, do austríaco Robert Musil (1880-1942), autor de dois romances célebres que marcaram o início e o fim de sua carreira literária, O jovem Törless (1906) e o monumental Um homem sem qualidades (1930-1943). Escritor filosófico por excelência, Musil imprimiu em toda a sua obra uma inquietação diante do papel do indivíduo e da massa em um mundo em conflagração.

A seleção de textos forma um prisma multifacetado do pensamento de Musil. O escritor Marcelo Backes, que organizou, traduziu e é autor do posfácio de O papel mata-moscas e outros textos, considera o volume uma "realização parcial" da ideia de uma coletânea planejada por Musil pouco antes de morrer. Compõem o livro quatro contos, três ensaios (um deles sendo uma discussão ficcional sobre a própria obra do escritor), quatro textos que podem ser considerados aforismos longos e uma coletânea de aforismos curtos.

A aparência de miscelânea não esconde a recorrência metódica dos temas favoritos de Musil. O escritor – que lutou na Primeira Guerra Mundial e morreu pobre na Suíça, onde se refugiou do nazismo depois da anexação da Áustria pela Alemanha – parece ter acompanhado minuciosamente, em sua literatura esparsa, o progressivo desastre civilizatório no coração da Europa. Isso é perceptível na descrição ao mesmo tempo brutal e minuciosa contida no conto que dá título à coletânea, escrito antes dos dois conflitos mundiais.

Em "Sobre a estupidez", ensaio derivado de uma conferência, Musil procede a uma implacável investigação que, embora não destituída de ironia, contempla com profunda seriedade a balbúrdia de convicções no mundo intelectual de seu tempo. Sobressaem nesse texto o retrato da falência iminente dos valores em que se baseiam os pactos sociais e os evidentes limites da razão. Com esses temas, Musil se aproxima de muitos de seus contemporâneos de escrita em língua alemã, de Kafka a Walser, de Thomas Mann a Hermann Hesse, de Benjamin a Freud. Seu estilo desafiador, no entanto, é único, o que levou Mann a lhe dizer em uma carta: "Não há outro escritor alemão vivo de cuja permanência eu tenha tanta certeza". E, de fato, diz o organizador Marcelo Backes: "'Sobre a estupidez' é tão atual que, para um analista agudo, seu princípio poderia se dirigir a vários governos e regimes instaurados hoje pelo mundo afora".

Durante anos a obra de Musil permaneceu em relativa obscuridade até ser redescoberta no início dos anos 1950, quando começou a ser traduzida para outros idiomas. No Brasil, Um homem sem qualidades só chegou em 1986. A recepção crítica aos livros de Musil raramente deixa de mencionar seu caráter provocativo e denso, corroborando a frase do próprio escritor: "A imortalidade da obra de arte é seu caráter indigesto".

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